AGENCIAMENTO ESTATAL, DESTERRITORIALIZAÇÃO E DESCARTE DE TRABALHADORES NA REGIÃO

Dentre os temas tratados neste livro, focaliza-se o movimento migratório de trabalhadores e trabalhadoras rurais para o trabalho sazonal em Mato Grosso, um fenômeno concomitante ao processo de reocupação da faixa norte do Estado para disputar os postos de trabalho abertos nas propriedades agrícolas estabelecidas dentro dos projetos de Colonização naquele momento, (basicamente a partir de 1970). As rodovias federais, à época abertas com vistas à integração da Amazônia, também integraram as regiões limítrofes, conforme dito há pouco, e funcionaram como corredores migratórios, estimulando a busca por essas áreas, e seus postos de trabalho. Segundo constata a autora, muitos desses trabalhadores foram atraídos por promessas de trabalho farto e bons salários, mas terminaram enredados por relações laborais indignas e injustas, sendo mal remunerados pelo desempenho de tarefas árduas, expostos que eram a riscos e perigos por falta de ferramentas ou equipamentos de proteção, por uma alimentação de má qualidade e pelo pouso em alojamentos improvisados. Uma vez vitimados por esse círculo vicioso de exploração, que não raro os inseria em condições de trabalho análogas às de escravo, os trabalhadores perderam gradualmente a autoestima, passando a não se preocupar com a aparência pessoal, suas roupas, sua higiene, dormindo ao relento nas cidades. Então, não se encontrando nas frentes de trabalho, migraram sem destino certo para centros urbanos. Foi a absolutização da desterritorialização.

Vitale Joanoni Neto